segunda-feira, 29 de setembro de 2014

30/09/2014 00:09

Hoje estou muito deprimida. Quis me matar de novo. Cheguei a colocar a faca em meu pescoço, mas não consegui.
Sempre que tento fazer isso ele vem na minha mente.
PORQUE?
PORQUE?

Eu só quero paz. Esse sentimento me corrói por dentro. Me deixa cada vez mais fraca. E cada vez mais perto da morte.

Porque eu não consigo ser feliz?
Porque?
Eu tento! Eu juro! Eu tento!
Mas eu não consigo.
Acabei de perguntar se ele estava bem. E ele disse que sim.

Acho que ele ainda não entendeu que ele é a única coisa que me mantém aqui. Espero que nem descubra.

Ninguém chega e pergunta porque eu só fico presa no quarto. Ninguém realmente quer saber. Ninguém realmente se importa.
E mesmo assim eu continuo aqui por ele. Para que?
Ele nem se quer percebeu que estou assim por meses. Talvez já tenha até um ano ou mais. Nem me lembro.

Sempre digo: Nossa o tempo está passando tão rápido! A semana passou tão rápido! Fora quantas vezes eu implorei por ajuda.
Não adianta.

Eu preciso de ajuda. Esse é um pedido de socorro.
E não importa quantas vezes você peça por ele, ninguém vem te ajudar. Você não está bem para sair e beber com seus amigos lembra? Então. Eles só querem se divertir, e não um fardo.

Sorrir, rir. Sabe como isso faz falta? É difícil achar alguém que se disponha a ajudar alguém a sorrir. Eu preciso sorrir. Distrair. Sair um pouco de dentro de casa, nem que seja forçada a isso.
Meu corpo e minha alma me forçam a ficar sempre aqui. Parada. Sem nada para fazer. Sem vontade de fazer nada.
Se ao menos eu tivesse alguém que pudesse me fazer esquecer isso por um minuto se quer. Com certeza me ajudaria de mais!
Ajuda. É só o que peço.
Isso é um pedido de socorro.
Sinto algo que muitos sentem e não tem coragem de assumir.

SINTO MEDO!

E ainda estou aqui.
O meu coração é um lugar estranho. Na maioria das vezes não consigo entender o que estou sentindo. Como é possível uma pessoa, aos seus 19 anos não se conhecer?
Sinto como se tivesse um demônio dentro de mim que me faz agir de um jeito estranho. É como se eu não quisesse agir, mas meu corpo fizesse sozinho. E enquanto isso fico pensando: Não posso continuar com isso. E tento parar, mas não consigo.
Talvez minha mãe sempre estivesse certa e eu sou um Demônio.
De certa forma se eu fosse um demônio que conseguiu encarnar eu não saberia, certo?
Estou há quase duas décadas comigo e eu não sei que sou. A única coisa que sei é que um monstro me assombra desde criança, e eu sei que ele está aqui comigo, sempre esteve. Eu o sinto a noite quando vou dormir. Observando-me. Ele nunca me disse nada. Por quê?
Depressão, o que realmente é?
Sinto vontade de chorar e ficar indiferente o tempo todo.
Tenho vontade de me trancar e é o que eu faço.
Tenho vontade de deitar e vegetar.
Tenho vontade de me matar.

Penso assim: Porque eu estou aqui? Para quê? Não faço nada de útil na minha vida! Não sei por que ainda agüento acordar todos os dias e levantar da cama, mesmo que sendo para ir para a cadeira ao lado da mesma.

Sinto um vazio. Na verdade não sinto nada.
Quero me esforçar para fazer as coisas, mas não consigo. O que aconteceu comigo?

Pela primeira vez na minha vida não quero ser notada.
Pela primeira vez na minha vida não quero que me chamem, ou que me agradem ou desagradem, que seja.
Quero morrer.
Quero morrer.
Quero morrer.
Lenna sentia seu corpo queimar. As agressões deixavam em sua pele a lembrança de sua desobediência. Ela queria chorar, mas não ousaria desabar enfrente aquele homem. Seus pensamentos tentavam consolar seu ódio, imaginando o que poderia fazer com aquela alma.

- Não me olhe assim menina. Precisamos domar as feras antes de expô-las. Assim se lembraram de quem manda se fizer algo.

Queria ofende-lo, mas sua boca doía. Seu maxilar estaria quebrado? Teria ele a socado com tanta força? Maldito. Mas iria pagar. Com a vida, pensava Lenna. Ela poderia acabar com tudo se quisesse, mas eles a pegaram da pior maneira. Seu irmão Ícaro estaria com o dono do circo, Dórios. Ele os pegara quando visitaram sua cidade em Orlienys. Não havia como pedir ajuda estavam apenas os dois enfrente o riacho das pedras. Lenna mostrava o irmão como usar o elemento da água para curar, quando os olhos do homem se exuberou pela magia de Lenna. Sua família não imaginaria o acontecido, pois apenas ela seria diferente, e depois Ícaro. Ele tinha apenas 9 anos, Lenna dez anos mais velha.

- Vamos Lourenço! O circo abre quase agora! – gritou um dos empregados. – Larga essa menina, vai acabar matando ela, de tanto trepar! Ela não vai ter energia nenhuma.

- Está bem! Está bem! – disse o homem nojento se livrando dela. – Depois do show vou te pegar.

Lenna o olhou se afastar e cuspiu. Que ódio era aquele. Ela estava possessa por vingança queria acabar com ele.

Depois de um tempo a velha Mary se aproximou da jaula, com sua maleta de cosméticos. Seus olhos se indignavam com o que via. Ela entrou para aprontar Lenna para seu quarto show.

- Pobre criança... –dizia ela enquanto maquiava Lenna. – Esse homem nojento. Não se preocupe querida ele se enjoara.

Lenna não sentia raiva de Mary apesar de fazer parte de sua prisão, mas a velha lhe trazia palavras de consolo. E a vestia e a medicava com ervas, e lhe dava água e com isso podia se curar novamente, para no outro dia ser martirizada. Queria sua casa, seus pais, a comida simples de sua mãe. Mas não podia, tinha que mostrar sua magia para aqueles olhos curiosos, que viam ao circo para ver a filha do diabo como diziam. Se não o fizesse Ícaro morreria.

Mary a deixou pronta, o vestido vermelho, com os cabelos penteados, uma coroa. Parecia uma princesa, aprisionada em uma jaula ao lados dos animais. Queria chorar quando Mary a olhou nos olhos.

- Não chore criança. Sua dor vai passar.

- Não, não vai.

- Você e capaz de tudo e mesmo assim se rende a eles. Não seja tola criança, mostre a eles quem é você! Você tem a magia! Mostre-a!
                       *                                *                                      *
Por traz das cortinas Lenna ouvia Dórios pronunciar suas palavras, invocando a curiosidade em seu público, que aguardavam com a mais vigorosa ânsia, ver a filha do diabo.

- Senhoras e Senhores, hoje nesta noite vocês presenciaram uma ilustre jovem. Cujo a beleza foi concedida... Porem com sua beleza, veio o poder do próprio diabo! - ele pausava, e Lenna ouvia os cochichos dos presentes. – Esta jovem, mostra a vocês, o seu poder. Não temam meus Senhores, e senhoras, temos o poder de Deus conosco. Vejam Lenna a Feiticeira!!!

Com as cortinas abertas Lenna não levantou seu rosto para fitar os presentes. Sentia raiva fúria. Queria acabar com aquilo. Queria matar todos a quem fizera o mau. Seus braços mal se movia com as correntes pesadas e grossas. Permanecia com a cabeça baixa, sentada no chão de terra no meio de tantas pessoas, os protestos começaram a brotar. Pessoas perguntavam da feiticeira, acusavam Dórios de charlatanismo. Mais e mais protestos. Lenna ouviu os passos firmes de Dórios se aproximar, e o chicote encostar no chão e o estalo em sua pele. O silencio prevaleceu, todos fitaram a agressão como tortura. Como aquele homem poderia machucar a jovem? Por que tal brutalidade. Dórios tentou explicar mais não adiantou, ela permanecia intacta sentada, olhando o chão. Quando em meio os protestos a ele, ela viu seu agressor Lourenço atrás das cortinas para que o público não o visse, mostrando seu irmão amordaçado, sendo jogado no chão. Estava batendo no podre Ícaro que não podia se defender pelas cordas que o prendia.

Todos se calaram ao ver Lenna levantar, seus olhos eram negros como uma noite sem luar. Dórios recuou, estava no mesmo espaço que ela e temia. Ele fez um sinal como se o seu irmão sofreria as consequências. Mas ela o fitava e não deu importância.

- Viram olhem os olhos dela! São do próprio diabo!

Das tochas amarradas nas pilares, o fogo dançava formando um dragão oriental, e sombras, dançantes saiam do chão em formas horrorosas, eram diabos com asas, apenas sombras. Ela queria espantar todos e deixar apenas seus agressores. Com sucesso. Todos saíram correndo, gritando, alguns artistas do circo também.

- Seu irmão pagará! Bruxa! – disse Dórios. – Lourenço! venha cá! Homens!

Lourenço veio com mais quatro homens, um deles tinha uma espingarda apontada para ela. Lourenço tinha um punhal no pescoço de Ícaro.

- Vamos Bruxa, faça algo. – Ameaçou Dórios ao risos com seus capangas.

Lenna sorriu, suas correntes viraram duas jiboias, que deslizavam pelo chão. Todos olhavam horrorizados, a menina estava diabólica, suas unhas eram ocupadas por garras, seus cabelos desgrenhados, não eram loiros, sim uma cor barrenta, os lábios roxos, sua expressão era de matar. Mas ainda era de uma beleza inestimável.

- Morram! – disse ela.

Uivos, escutavam uivos. Com os braços esticados, Lenna puxou Ícaro, com uma força invisível. Colocando-o para trás de seu corpo para protege-lo. Um deles preparava para atirar quando a jiboia deu seu bote, projetando seu tiro para o alto. Lobos entravam pelas frestas da tenda, mostrando suas presas, rosnando. Eram vários. Dórios tremia, se jogou no chão ao ver seus homens serem mutilados. Lenna se aproximou de Lourenço e apontou para sua parte intima. Ao poucos ele começou a gritar, se debatendo, chorando. Ela o fazia apodrecer. Enfim olhou Dórios, chorando como uma criança.

- Você não morrerá, permanecera vivo, lembrando por cada segundo de sua vida, o sofrimento desses homens, os gritos, o choro, a dor. Permanecera vivo! Lamente sua existência, lamente sua ambição! E lembre-se que foi por ela, que isso aconteceu – ela o tocou na testa, o fazendo arregalar os olhos, parecia que o efeito de suas palavras já fazia sobre ele.

Ao voltar para Ícaro, já era sua linda irmã, que com um sorriso, o pegou nas mãos, e caminharam para fora da tenda onde permaneceu aos berros o homem que a tirou a bondade.
Estou tão cansada de estar aqui
Reprimida por todos os meus medos infantis
E se você tiver que ir
Eu desejo que vá logo
Porque sua presença ainda permanece aqui
E isso não vai me deixar sozinha
Essas feridas parecem não cicatrizar
Essa dor é tão real
Há tantas coisas que o tempo não pode apagar
Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas
Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos
E eu segurei sua mão por todos estes anos
Mas você ainda tem tudo de mim
Você costumava me cativar
Com a sua luz ressonante
Agora sou limitada pela vida que você deixou para trás
Seu rosto assombra todos os meus sonhos que já foram agradáveis
Sua voz expulsou toda a sanidade em mim
Eu tentei tanto dizer à mim mesma que você se foi
E embora você ainda esteja comigo
Eu tenho estado sozinha por todo esse tempo.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O vento batendo em meu rosto...
É tão frio quanto meus pensamentos e memórias antigos,
E por mais que eu queira, não esquecerei jamais.
Mas, como o vento, essas memórias vão e voltam...
E o grande problema é mesmo quando elas se vão, ainda sei que elas existem.
Como o vento.

Uma noite comum para um fato incomum.
Uma imensa alegria se tornando uma imensa dor.
Um troféu de ouro se tornando bica corrida.
Vinho se tornando sangue.

Desde aquela noite, a sobrevivência se tornou algo complicado
Fingir ser o que você não é se torna rotina,
Não se pode falar seus segredos e muito menos chorar por eles.
Só se pode sobreviver.

Felizmente a mente do ser humano supera tudo
E abrindo a mesma, se pode descobrir outros universos que não sejam
sua própria mente, e assim, depois de ter experimentado algo tão forte...
Ou se torna ou louco, ou se torna algo mais forte que o anterior.

E entendendo isso, percebe-se que a dor não é tão ruim,
e que também, nada que existe é só ruim, logo, nada que existe é só bom.
E entendendo os sentimentos, se entende a lei do equilíbrio.
Entendendo a lei do equilíbrio vem a noção de outras leis.
Entendendo outras leis, se descobre que tudo gira de acordo com uma simples,
pequena e minúscula gota d'água.

A grande pergunta é: O que é a gota d'água?